sempre fui uma adolescente que não se sentia pertencente a lugar nenhum, meus colegas da época não tinham nada em comum comigo e viviam num mundo diferente. terminei a escola sem levar nenhum deles pra vida.
entrei na faculdade com a ideia de que conheceria pessoas que compartilhavam gostos e ideais, mas na verdade achei minha versão nascida de outra mãe: a bianca. nossa amizade cresceu e floresceu durante contratempos da vida, entre pandemia, idas e vindas de um novo estado onde ela tinha ido morar, entre momentos de solidão e corações quebrados.
quem me conhece, conhece a bianca. essa é a regra. ninguém que passa na minha vida passa sem saber quem é bianca e o quão importante ela é pra mim. nós brincamos que o meu instagram é um grande compilado da nossa amizade, já que em toda publicação mensal ela sempre está lá.
nós compartilhamos a vida e nossas histórias com uma profundidade nunca compartilhada antes com ninguém, sempre vivemos os mesmos momentos ao mesmo tempo, os mesmos sentimentos, os mesmos problemas e a mesma curiosidade de saber o que esperava pela gente na próxima esquina do destino.
até que, em agosto de 2024, o destino resolveu tirar de mim a minha melhor amiga. ela tinha se mudado pra um novo apartamento e íamos tomar café da tarde pra conhecer o lugar onde ela estava tão animada pra morar, era perto de mim e nossos rolês ficariam mais fáceis de acontecer. mas ela nunca mais apareceu, eu nunca mais ouvi a voz dela.
recebi a ligação de uma amiga da família pra dar a notícia via whatsapp. quando ela me pediu pra ligar, eu já sabia que não vinha boa notícia. e realmente não veio... eu não tive reação, recebi a notícia em silêncio e sem entender se era real ou não. mas infelizmente era muito real.
desde então, é como se tudo fosse vazio e, ao mesmo tempo, cheio de bianca. a ausência dela é física, mas ela tá em tudo: nas colagens que faço, nas pessoas que conheço, nos shows que vou, nos filmes que assisto...
eu disse que fui uma adolescente sozinha, hoje me considero uma adulta solitária. eu tenho amigas, mas o sentimento de solidão sempre me acompanha, não importa o dia, horário ou clima. ao meu ver, é o espaço vazio de não ter a bia comigo em momentos que ela adoraria participar. tenho certeza de que ela ficaria muito feliz de eu estar em comunidades que me fazem bem e me conectam com pessoas desconhecidas, já que esse era nosso objetivo sempre que saíamos: conhecer pelo menos uma nova pessoa.
falar e lembrar dela ainda me faz chorar, fiz uma pausa pra chorar exatamente aqui.
a bia sempre foi muito independente, foi ela que me ensinou a ir sozinha a lugares que ninguém me acompanharia. quando as pessoas achavam esquisito ir ao cinema sozinha, ela sempre dizia: “nós vamos precisar ficar em silêncio de qualquer jeito, que diferença faz?” e eu repito isso até hoje.
ela também sempre foi muito livre, lembro dela chorando no metrô na volta de um date e me mandando áudio se depreciando (sabemos como é, né?) e levando bronca de desconhecidos sobre se valorizar mais, pois era linda demais pra estar falando aquelas coisas de si. hoje me sinto como ela: chorando sozinha no metrô pra todo mundo assistir e recebendo conforto de pessoas que eu nem imaginaria.
o projeto girl talk traz colaborações artísticas, criativas, desabafos e sussuros de mulheres em formato multiplataforma: a cada mês, a nossa comunicação percorrerá um tema, e em junho falaremos sobre ausência
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Sem palavras para esse relato 😭
Que a Bianca viva em muitas de nós e que tenhamos a coragem e sabedoria dela🙏🏻
Isa, sinto muito por sua perde, sinta-se abraçada e acolhida que Deus conforte seu coraçãozinho sempre e saiba que Bianca jamais te deixará, ela sempre está em sua mente e coração! ❤
amei conhecer a Bianca através de você, sinto que é alguém que eu gostaria de ser amiga. sinto uma inveja de não ter tido uma Bianca na minha vida, todas precisamos de uma Bianca. e vou levar como lição pra vida: conhecer uma pessoa nova a cada vez que eu sair de casa.